Primeira mulher brasileira a receber o prêmio Confúcio de Alfabetização, promovido anualmente pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e o governo da China, Carina Alves é enfática quando os temas são alfabetização e literatura inclusivas. Ela encara o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, 21 de setembro, como uma oportuna ocasião para analisar o atual estágio e o quanto ainda é preciso avançar. “Já deveríamos estar num patamar em que todos seriam apenas estudantes, e ponto final. Sem qualquer diferenciação, com os mesmos direitos e oportunidades. Mas, infelizmente, a igualdade ainda não prevaleceu nas instituições de ensino”, analisa Carina. Dados divulgados em julho deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) comprovam o que diz a fundadora do Incluir. O levantamento mostra que existem 18,6 milhões de brasileiros (8,9% do total) de 2 anos ou mais com deficiência. Segundo o levantamento, a taxa de analfabetismo para PCD foi de 19,5%. A maior parte das pessoas de 25 anos ou mais com deficiência não completou a educação básica: 63,3% eram sem instrução ou com o fundamental incompleto e 11,1% tinham o ensino fundamental completo ou médio incompleto. Globalmente, outros dados fazem um recorte desse público. Relatório do Unicef, publicado em 2021, mostra que o número de crianças com deficiência em todo o mundo é estimado em quase 240 milhões. Fundadora do Instituto Incluir e idealizadora do Projeto Literatura Acessível, Carina ressalta que falar sobre educação para pessoas com deficiência ajuda a impulsionar a transformação sociopedagógica infantil e também a fomentar a inclusão: “Alfabetizar é acreditar na educação como ciência, no seu poder de emancipação, de estimular o pensamento crítico e colaborar no combate à pobreza da subjetividade humana. Quando ampliamos esse universo, democratizamos o caminho para o processo de alfabetização inclusiva e acessível. Lembro ainda que brincar, cantar, dançar, pintar são meios igualmente relevantes de formação pedagógica. E o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência funciona como importante data para aprofundar a reflexão sobre a importância do ensino inclusivo”, diz a doutora em educação.
Série premiada internacionalmente materializa luta pela inclusão Nos livros que compõem o projeto Literatura Acessível, as crianças – com ou sem deficiência – são as protagonistas, desafiando o preconceito social que encontram no esporte, na educação e na cultura. As obras contemplam versões acessíveis em libras, braille, pictograma, audiodescrição, fonte ampliada e audiobook; e no QR Code, que leva para o site no aplicativo Literatura Acessível e em e-books. Estão disponíveis por recursos de audiodescrição e de contação das histórias em libras, que expandem o alcance de seu conteúdo ao público mais diversificado possível. “O projeto Literatura Acessível pretende desenvolver atividades culturais e educacionais para formar uma nova sociedade, que seja mais plural e justa. É uma iniciativa voltada a crianças e tem como inspiração temáticas que acredito serem fundamentais para as próximas gerações: diversidade e multiculturalidade, estimulando temas como acessibilidade, inclusão e igualdade de gênero no dia a dia social e pedagógico das crianças”, afirma Carina.
Presença na Jornada Mundial de Alfabetização 2023 No início de setembro, Carina esteve na Jornada Mundial de Alfabetização 2023, em Paris (França), a convite da organização do encontro, sendo a única representante do Brasil na categoria Alfabetização Brasil. O evento contou com as principais vozes da educação e da literatura acessível. A presença da fundadora do Instituto Incluir na jornada foi fruto da premiação recebida pelo projeto Literatura Acessível, em 2022. A iniciativa foi vencedora do prêmio Confúcio de Alfabetização, promovido anualmente pela Unesco. A instituição reconhece e celebra mulheres que defendem o avanço da tecnologia transformadora e da educação digital. “Somos a única [e primeira] iniciativa brasileira a conquistar o Prêmio Confúcio. A honraria e minha participação na Jornada Mundial de Alfabetização 2023 são um reconhecimento dos esforços e de um estímulo para continuar trabalhando por uma educação mais inclusiva e de qualidade para todos/as”, celebra a doutora em educação e fundadora do Instituto Incluir. Em 2023, a programação do Dia Internacional da Alfabetização, da Unesco, teve como tema “Promover a alfabetização para um mundo em transição: Construindo a base para sociedades sustentáveis e pacíficas”.